Citação da semana

"A mulher que se acha inteligente reclama igualdade de direitos com os homens. Mas a mulher que é realmente inteligente não o faz."
Sidonie Gabrielle Colette

Eu quero ser! Mais pra quem?

Esta semana tomando um cafezinho pra espantar o frio, acompanhado de um cigarro (péssimo hábito) eu e uma amiga ouvíamos música a beira do fogão à lenha na casa dela.

Normalmente ouvimos uma mesma sequência de músicas, coisa nossa, mas nesse dia uma música, desconhecida minha, começou a tocar e automaticamente me chamou atenção. Aquela letra, em um primeiro momento me encantou e em seguida me deixou intrigada. A tal música me seguia. Cheguei em casa e meu irmão “tirava os acordes” da mesma no violão. Ouvi até o final e coloquei novamente, ouvi e repeti, repeti, repeti...  Um costume meu que desagrada a algumas pessoas. Mais era aí mesmo que eu estava querendo chegar.

Alguns dos versos diziam o seguinte: “Eu quero ser ao teu lado encontro inesperado, o arrepio de um beijo bom, eu quero ser sua paz a melodia capaz de fazer você dançar”.

Muito nobre eu concordo, mas até que ponto ser o que as pessoas esperam de você faz bem? Eu ainda não tenho esta resposta. Infelizmente, às vezes eu penso que não faz bem nem pra você, nem pra quem você deseja tanto ser algo.

Eu sei, por experiência, que dentro de um relacionamento queremos sempre agradar a pessoa amada. Muitas vezes deixamos de ser quem somos pra ser quem o outro espera que sejamos. Lastimável. É bom ser agradado, não estou dizendo o contrário.  Quem não gosta de um mimo? Eu adoro. Mas na maioria das vezes o feitiço acaba virando contra o feiticeiro. Quando você tenta ser outra pessoa para agradar o “seu bem” você deixa de ser quem você é. Esquecendo que foi justamente por “ela”, e não “pela outra”, essa inventada, que sai não sei de onde e que muitas vezes complica tudo, que ele se apaixonou.

Desde pequenos as pessoas depositam expectativas “em cima de nós”. Pensa comigo. Quando sua mãe descobre que está esperando um bebê fica feliz, normalmente, mas logo em seguida já começam as expectativas: “qual será o sexo da criança?” Quando crescemos, mais expectativas.  Entramos na escola: “será que ele vai ser um bom aluno?” Quando maiores: “com certeza ele tem talento pra médico” (ou seja lá o que for). Isso nos deixa com um grande depósito. Um depósito que na maioria das vezes não é nosso,  mas que não faz de nós inocentes.

Mas ainda dentro da música, eu acho que elas me perseguem (risos), outra me trouxe o mesmo tema na tarde chuvosa de hoje. Falava assim:

“Sei lá... tem dias que a gente olha pra si e se pergunta se é mesmo isso aí que a gente achou que ia ser, quando a gente crescer. Em nossa história de repente ficou alguma coisa que alguém inventou e a gente não se reconhece ali, no oposto de um déjà vu”

Porque será que a gente faz isso? Tentar se moldar aos gostos alheios. Isso não nos torna melhores ou piores. Mas eu também já caí nesta cilada.

Não é errado tentar agradar os outros, eu amo fazer isso, o que eu acho errado é deixar de ser quem você é pra que os outros gostem mais de nós. Não quero dizer com isso que não devemos mudar, claro que não é isso. Na verdade eu creio piamente que devemos sim ser uma “metamorfose ambulante”. O que me incomoda é que na maioria das vezes resolvemos mudar pelos outros e não por nós mesmos.

Em algum momento, alguém já deve ter tentado mudar por você. Em algum momento essa pessoa deve ter te dito as coisas que ela imaginava que você queria ouvir e não as que ela queria mesmo te dizer. Mas como não conseguimos ser alguém que não somos por muito tempo com toda certeza logo depois a verdade veio a tona e ai está, o tal feitiço virando.

Nem sei o que dá mais trabalho mudar pelos outros ou tentar mudar os outros por você. Também não consegui descobrir ainda o que é menos eficiente.  Mas pra findar e ainda ao som de Raul, que dizia,  “Por que cargas d'águas você  acha que tem o direito de afogar tudo aquilo que eu sinto em meu peito, você só vai ter o respeito que quer na realidade no dia em que você souber respeitar a minha vontade.” Gostaria de deixar um humilde conselho, respeite quem você é, respeite quem você quer ser. Respeite também quem o outro é, independente do que isso seja.

Mas resumindo, em uma frase que acho sábia mas não sei de quem é e diz. “Na vida muitas pessoas te amarão pelo que você é enquanto outras vão te odiar pelo mesmo motivo.”

                                                                                       Gabriela Cabral