segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Confissão


Preciso dizer. Sou mais humana do que demonstro na maioria das vezes.
Sim! Humana na raiz da palavra.
Sinto dores, cansaço, preguiça, raiva, inveja, ciúme e fome. Me magôo.
Gosto quando as coisas acontecem do meu jeito. Me envergonho ao ser corrigida, faço cara de malvada pra impor respeito.
Me apaixono embora na maioria das vezes haja como se não me importasse. Em alguns dias acordo de mal humor sem causa aparente e gosto muito de ficar quietinha até o despertar completo. Sinto desejos, de vários tipos e prefiro maneirar no prato principal pra poder abusar da sobremesa.
As vezes choro de angústia e converso com Deus.
Não faço sempre as escolhas corretas.  Já enfrentei alguns perigos mas morro de medo de ratos. Ainda sinto vontade de repousar minha cabeça no colo da minha avó, receber cafuné e fingir que tudo vai ficar bem.
As vezes penso no futuro, faço planos e imagino como vai ser se eles não se concretizarem. Perco a fé em alguns casos, mas basta que a vida me sorria e a recobro rapidamente.
Passo algumas noites em claro, ando de um lado pro outro, tomo chá, abro a porta da geladeira mais de dez vezes e admiro a noite pela janela da cozinha antes de voltar a dormir.
Sou humana, como você.
Falo sério quando é preciso mas desejo que não seja preciso o tempo todo.
Tenho medo de lugares desconhecidos e  até de me perder na cidade onde nasci e cresci.
Gosto de dormir com barulho de chuva e com a claridade da televisão. Amo cheiro de terra molhada e detesto som de broca de dentista.
As vezes finjo que entendi.
Amo cozinhar para os amigos mas não gosto da obrigação de ter de cozinhar todo dia embora reconheça ser necessário.
Já fiz dietas malucas e já fiquei sem ir a academia por duas semanas.
HUMANA!!!
Eu precisava confessar.
As vezes as pessoas me vêem de uma forma irreal. Surreal me atrevo a dizer.
Não sou forte o tempo todo, mas até hoje achei que agindo assim estaria me reservando, me guardando, impedido que o sofrimento se aproximasse.
Não sei tudo, não consigo tudo que quero e muito menos consigo resolver todos os problemas que surgem ao longo dos dias.
Adoro cuidar das pessoas mas gostaria que de vez em quando, pra variar, alguém cuidasse de mim.
Não estou sempre feliz, sorrindo ou fazendo piadas se bem que faço isso boa parte do dia. As vezes sou chata e sem graça como cem por cento da população mundial.
Olho para as crianças e sorrio esperando que elas me correspondam, fico alegre com dias ensolarados e pasma com pessoas que misturam estampas e texturas na hora de vestir-se.
Sou crítica. Sou humana poxa!
Gosto de muitas coisas, não gosto de muitas outras e a algumas sou indiferente.
Tem gente com quem simpatizo de cara, tem outras que antipatizo da mesma forma.
Pois é...
Já tomei coca-cola esperando aliviar uma dor de estômago e já sofri por uma escolha mesmo sabendo que era a correta a ser tomada.
As vezes sou como os outros me vêem em outras mais pareço algo que eu mesmo inventei. Mas a maior prova de que é sangue sim o que corre em minhas veias, é essa louca sensação de estar despida ao revelar todas estas coisas a meu respeito e retirar, sem dó, a armadura que as protegeu até hoje.

Gabriela Cabral

Um comentário:

  1. Gabriela!
    Muito boa a crônica acima, ela se encaixa, em muitos momentos, na vida de muitas pessoas, certamente.

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